sábado, 31 de dezembro de 2011 0 comentários

passarela do tempo

as pessoas vão passando
uma passarela com fluxo próprio
pensando presente

passado presente

passando

sem as pessoas do passado
agora sem futuro
meu futuro um eterno passado
que se foi

carregando consigo

carregando comigo

todas as pessoas passadas

me deixando assim

sem história

permanente futuro a ser passado

e a criar presente
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011 0 comentários

despedida

VAI
SAI
          de mim.
                      LEVA
              seus discos
              seus livros
              sua casa no campo
E NADA MAIS.
domingo, 25 de dezembro de 2011 0 comentários

POTÊNCIA

O homem é apaixonante
porque é o único animal
cuja vida
está aberta ao possível
sábado, 24 de dezembro de 2011 0 comentários

Natal

é tarde
feche a porta
não deixe a noite entrar
no nosso refúgio
onde sempre há de ser
dia claro e ensolarado
enquanto o amor morar
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011 0 comentários

amor

não corra de mim
deixe eu lhe enredar
em meus tentáculos
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011 0 comentários

dobradura

sempre gostei de coisas
que abrem e fecham
dobram e guardam
quero te guardar
nas minhas dobras
quero te fechar
nas minhas pregas
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011 0 comentários

Tédio

por que tenho a impressão
de que uma vida aconteceu
quando na verdade
só se passaram umas horas
entre o almoço e o jantar?
terça-feira, 20 de dezembro de 2011 0 comentários

segredo

estou trancada em mim
cadê você
que não chega
com as chaves dos meus
cadeados?
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011 0 comentários

Potência

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borbulhas

jorram coisas de dentro de mim
as palavras, tanto tempo guardadas,
finalmente descobriram a brecha
e forçam caminho
rasgam carnes músculos veias
no desejo de jorrar
são borbotões
borbulhando
e encharcando de poesia
quem passa ao lado
sábado, 19 de novembro de 2011 0 comentários

descarte

abjeto dejeto
lixo concreto
charme discreto
deste século
do objeto
sexta-feira, 18 de novembro de 2011 0 comentários

costume

tenho medo de tocar
as pessoas.
penetrar em sua intimidade
corpórea.
outras peles
outros cheiros
sem o conhecido
do meu habitual
quinta-feira, 17 de novembro de 2011 0 comentários

cantinho do olhar

meus olhos captam o movimento
pelos cantos
ruas pessoas prédios
e carros
pelas bordas
ritmo frenético das pálpebras
outras vidas me atravessam
pelas margens
paralisia
quarta-feira, 16 de novembro de 2011 0 comentários

plástico

sintético
mimético
      ético

etílico acrílico
delírio de poeta
terça-feira, 15 de novembro de 2011 0 comentários

pressão

cedo o cedro cede
talhado pela lâmina
cedo o medo cede
afiado pelo corte
cedo Pedro cede
pressionado pela morte
segunda-feira, 14 de novembro de 2011 0 comentários

querências

quero ser capaz da genialidade
de um dia após o outro
do cotidiano vivido sem pressa
da vida que se esmera
em cadência, lentidão e tarefa
domingo, 13 de novembro de 2011 0 comentários

chuva

chuva.
chuva suja.
enlameia
negra teia.
sexta-feira, 11 de novembro de 2011 0 comentários

Verão

Me consumo em irritação
Me armo em espinhos
Prontos a furar o mundo
Rasgá-lo em pedaços
Verter seu sangue e seu sumo
Desperdiçar alegria e paixão
Tudo só para ordenar
Aquilo que não vai bem ao meu gosto
quinta-feira, 10 de novembro de 2011 0 comentários

capitu

fascínio
papéis canetas
- letras
embriaguez de fala
ressaca de poesia
quarta-feira, 9 de novembro de 2011 0 comentários

enredo

o que me falta é enredo
forma, já tenho demais
sobram linhas superficiais
palavras arrumadas sem medo

conteúdo: o grande segredo
terça-feira, 8 de novembro de 2011 0 comentários

ocupação

estou sempre tão preocupada
em te fazer feliz
que às vezes
as coisas ficam por um triz
segunda-feira, 7 de novembro de 2011 0 comentários

futuro

futuro
- negro menino olhar
futuro
- branco velho apagar
futuro
- amarelo amargo acorda
futuro
- vermelho venenoso versejar
domingo, 6 de novembro de 2011 0 comentários

venda

Ficar aqui sentada
vendo a vida passar pela janela
enquanto a vida se vende
e a janela não passa
de uma venda
sábado, 5 de novembro de 2011 0 comentários
não ligo mais
para seus silêncios
que fogem de mim.

agora,
eu invento

                     poesia
sexta-feira, 4 de novembro de 2011 0 comentários

secura

estou seca.
veias estancadas.
toda a seiva que havia em mim
foi sugada.

brincando de existir.
domingo, 30 de outubro de 2011 0 comentários

vermelho

eu te amo em vermelho
com a cor da tentação
        e do rubor
com a cor da contradição
        e do torpor
que bem arde em nós dois


quinta-feira, 27 de outubro de 2011 0 comentários

aritmética

já fui muitas
hoje sou menos
quarta-feira, 26 de outubro de 2011 0 comentários

Espera

Daqui a pouco
ele vem
ele chega
ele aparece
ele está aqui
ele se senta
ele sorri
ele pede o cardápio
ele acende o cigarro
a expectativa vai embora.
terça-feira, 25 de outubro de 2011 0 comentários

afagos

essa mistura de hálitos
roçar suave dos lábios
teus cheiros
das entranhas
me afagam as narinas
a me envolver em afagos
círculos concêntricos em agonia
segunda-feira, 24 de outubro de 2011 0 comentários

Desejos

queria todos os dias
acordar com a alma lavada
e descobrir o mundo
com olhos de criança
sem estar pronta
com a vida
e a cama
por fazer
domingo, 23 de outubro de 2011 0 comentários

Poeta

um poeta retrata seu tempo
as pessoas que passam
as pessoas que ficam
ou então

o poeta abre as janelas de si
e de lá deixa sair
marimbondos e abelhas
faz mel doce e enjoativo
constrói casas engenhosas
aferroa com dor e suavidade
sábado, 22 de outubro de 2011 0 comentários

Caos urbano

o velhinho sentou-se
pacientemente abriu seu livro
gestos calmos e contidos
nenhum desperdício
apoiou a pasta no colo
mergulhou na leitura
sem mexer um músculo
olhos apenas
navegando pelas letras
páginas mal e mal se viravam
sem alarido

o velhinho marcou o livro
com um recibo de depósito bancário
e se preparou para descer do metrô.
quinta-feira, 20 de outubro de 2011 0 comentários

Língua

ácida mordaz
       LÍNGUA

ferina acaricia a presa
colhendo sordidez
dourada certeza

                         pondo a mesa
                         para um banquete de dissabores


quarta-feira, 19 de outubro de 2011 0 comentários

Eixo

recomeço
remelexo
meço as palavras
mexo na vida
com desleixo
segunda-feira, 17 de outubro de 2011 0 comentários

espreita

doce vida
vai e volta
atrás da porta
está sempre
o novo a espreitar
sábado, 15 de outubro de 2011 0 comentários

Vazio

empty
vide
vazio
o barulho da cesta de lixo
espelha no vidro
vazado pela solidão
quinta-feira, 13 de outubro de 2011 0 comentários

só no escuro

no escuro
puro urro
murmuro
procuro
o muro
só encontro
meu sussurro
terça-feira, 11 de outubro de 2011 0 comentários

Palavras

Palavras.
como elas podem representar
o que sinto?
são apenas aglomerados de letras
que se forem embaralhadas
não vão indicar nada
Srvlpaaa
viu só?
é por isso
que você não fala nada
para não cair no conto da palavra
e para não cair no risco
de eu acabar entendendo
(tudo).
segunda-feira, 10 de outubro de 2011 0 comentários

enfado

o dia-a-dia me cansa
bom mesmo seria
viver de fantasia
quinta-feira, 29 de setembro de 2011 0 comentários

lima-limão

quero da vida sorver o sumo
me deliciar com seu limo
afiar minhas garras com sua lima
e impedir que o néctar suma
quarta-feira, 28 de setembro de 2011 1 comentários

Poética

E então não dá para explicar a solidão que sinto
É como se houvesse uma multidão (dentro de mim)
Não dá mais para calar as vozes
Elas saem sem eu querer
Fugitivas invadem o papel
E se apossam do meu ser
Numa infração de meu código pessoal
Tão verdadeiramente filho do social
Mas elas, assaltantes perigosas,
Não se preocupam com as leis
E rompem meu esquema de segurança
Até escapulirem pelas linhas do papel.
terça-feira, 27 de setembro de 2011 0 comentários

Saudade

saudade é um estar em mim

dizia o drummond
mas este estar em mim
dói dói dói
tanto tanto tanto
que fica só o desejo
de não estar nada em mim
e estar tudo no outro
sem saudade
sem ausência
só estar
como diriam os ingleses: just being
segunda-feira, 26 de setembro de 2011 1 comentários

Esquemático

estabelecer esquemas
sofisticados sistemas
no fundo, nada além
de esconder
os reais problemas

24 de setembro de 1991
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24 de setembro de 1991

escrevo poemas
como para curar
edemas

que a sede de ser
irrompe em mim
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011 0 comentários
tenho colecionado segredos
singelos, pequenos
uma mágoa aqui,
um olhar entristecido ali.
um esquecimento, por vezes.

não são dores,
frustrações
nem desilusões.

são cacos do viver
será que isso é envelhecer?

um certo gosto amargo
um travo
 
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